[Perdoem-me caros leitores a ausência. Aqui estou eu de volta. E que regresso.Que dia tão chuvoso. Sabe bem ao pensar. ]
Que tempo horrível. Que frio me congela os ossos. Os casacos não chegam. Maldito sejas. Maldito tempo. Mas perdes. Só me prendes os movimentos. Os pensamentos não. Esses. A chuva fá-los fluir. Como a turbulência de um temporal. Mas com clareza. A mesma clareza da chuva. Que me molha. Que me deixa submersa. Que escorre no meu cabelo. Que o faz ondulado. Que me faz perder. Em mim. Em ti. No que já passou. Quando chego a casa o pouco basta-me. Sai naquela estação fria. Coberta de histórias. De momentos. Onde nas paredes ficaram devaneios. Ansiedades. Que carregava comigo. Mas que ficavam por todo o lado. Por tudo onde passava. Preciso de um banho. Água a ferver. Quase me queima a pele. E mesmo assim. Não me acorda. Não me faz consciente. Enrolada na toalha. A pele vermelha. Prestes a saltar. Vejo-me ali. Nua. Despida. De mim. Como as vezes me dou a alguém. Mas vestida. Não são as ausências. Nem as presenças. Nem tão pouco saudades. É só a confusão. O deja vu. Ver tudo mesmo ali. Tão perto. E tão longe. Estares ali. Tão longe. Mas tão perto. Ou talvez seja apenas eu. A roupa molhada. Caída no chão. Como aquela curta memória. Que se perdeu na chuva. Que o vento levou. Que a água desfez. Nada se via através dos cabelos. Só os olhos molhados. A cara que escorria. Tão cinema. Mas tão real. Ficava-se assim. Perdidos na imensidão de um tempo. Sem fim. Sem correrias. Nem frenesins. Com os relógios parados. Com promessas de um dia. Talvez um dia. Quem sabe um dia. E depois. Nunca um dia. As mesmas personagens. No mesmo cenário. A cobrarem. No silêncio. Que tanto falava. Que tanto dizia. Do que houve.Do que nunca existiu. Tão verdade. Tantas palavras. Nunca ditas ao acaso. Por algum motivo nunca se fechou a porta. Nunca se abandonou o resto das cinzas. As tais que ainda sobravam no canto da porta. Ao encostar e ao bater do seu vazio. Faltaram as palavras. Talvez. E ainda há muito por dizer. Muita água para cair. Muitas tempestades para ultrapassar. Muitas cinzas por apanhar. Antes de sair. Esquecer. Arrumar. Fechar. A porta. Ou quem sabe nunca se feche. Ou mesmo um dia se abra. Por enquanto olho pela janela. A varanda vai inundar. Pena não estar lá. Para que à beira do abismo. Pudesse dizer tudo. Tudo. Tudo.
Ana Teixeira
Que tempo horrível. Que frio me congela os ossos. Os casacos não chegam. Maldito sejas. Maldito tempo. Mas perdes. Só me prendes os movimentos. Os pensamentos não. Esses. A chuva fá-los fluir. Como a turbulência de um temporal. Mas com clareza. A mesma clareza da chuva. Que me molha. Que me deixa submersa. Que escorre no meu cabelo. Que o faz ondulado. Que me faz perder. Em mim. Em ti. No que já passou. Quando chego a casa o pouco basta-me. Sai naquela estação fria. Coberta de histórias. De momentos. Onde nas paredes ficaram devaneios. Ansiedades. Que carregava comigo. Mas que ficavam por todo o lado. Por tudo onde passava. Preciso de um banho. Água a ferver. Quase me queima a pele. E mesmo assim. Não me acorda. Não me faz consciente. Enrolada na toalha. A pele vermelha. Prestes a saltar. Vejo-me ali. Nua. Despida. De mim. Como as vezes me dou a alguém. Mas vestida. Não são as ausências. Nem as presenças. Nem tão pouco saudades. É só a confusão. O deja vu. Ver tudo mesmo ali. Tão perto. E tão longe. Estares ali. Tão longe. Mas tão perto. Ou talvez seja apenas eu. A roupa molhada. Caída no chão. Como aquela curta memória. Que se perdeu na chuva. Que o vento levou. Que a água desfez. Nada se via através dos cabelos. Só os olhos molhados. A cara que escorria. Tão cinema. Mas tão real. Ficava-se assim. Perdidos na imensidão de um tempo. Sem fim. Sem correrias. Nem frenesins. Com os relógios parados. Com promessas de um dia. Talvez um dia. Quem sabe um dia. E depois. Nunca um dia. As mesmas personagens. No mesmo cenário. A cobrarem. No silêncio. Que tanto falava. Que tanto dizia. Do que houve.Do que nunca existiu. Tão verdade. Tantas palavras. Nunca ditas ao acaso. Por algum motivo nunca se fechou a porta. Nunca se abandonou o resto das cinzas. As tais que ainda sobravam no canto da porta. Ao encostar e ao bater do seu vazio. Faltaram as palavras. Talvez. E ainda há muito por dizer. Muita água para cair. Muitas tempestades para ultrapassar. Muitas cinzas por apanhar. Antes de sair. Esquecer. Arrumar. Fechar. A porta. Ou quem sabe nunca se feche. Ou mesmo um dia se abra. Por enquanto olho pela janela. A varanda vai inundar. Pena não estar lá. Para que à beira do abismo. Pudesse dizer tudo. Tudo. Tudo.
Ana Teixeira