Dia chuvoso

21:12

[Perdoem-me caros leitores a ausência. Aqui estou eu de volta. E que regresso.Que dia tão chuvoso. Sabe bem ao pensar. ]


Que tempo horrível. Que frio me congela os ossos. Os casacos não chegam. Maldito sejas. Maldito tempo. Mas perdes. Só me prendes os movimentos. Os pensamentos não. Esses. A chuva fá-los fluir. Como a turbulência de um temporal. Mas com clareza. A mesma clareza da chuva. Que me molha. Que me deixa submersa. Que escorre no meu cabelo. Que o faz ondulado. Que me faz perder. Em mim. Em ti. No que já passou. Quando chego a casa o pouco basta-me. Sai naquela estação fria. Coberta de histórias. De momentos. Onde nas paredes ficaram devaneios. Ansiedades. Que carregava comigo. Mas que ficavam por todo o lado. Por tudo onde passava. Preciso de um banho. Água a ferver. Quase me queima a pele. E mesmo assim. Não me acorda. Não me faz consciente. Enrolada na toalha. A pele vermelha. Prestes a saltar. Vejo-me ali. Nua. Despida. De mim. Como as vezes me dou a alguém. Mas vestida. Não são as ausências. Nem as presenças. Nem tão pouco saudades. É só a confusão. O deja vu. Ver tudo mesmo ali. Tão perto. E tão longe. Estares ali. Tão longe. Mas tão perto. Ou talvez seja apenas eu. A roupa molhada. Caída no chão. Como aquela curta memória. Que se perdeu na chuva. Que o vento levou. Que a água desfez. Nada se via através dos cabelos. Só os olhos molhados. A cara que escorria. Tão cinema. Mas tão real. Ficava-se assim. Perdidos na imensidão de um tempo. Sem fim. Sem correrias. Nem frenesins. Com os relógios parados. Com promessas de um dia. Talvez um dia. Quem sabe um dia. E depois. Nunca um dia. As mesmas personagens. No mesmo cenário. A cobrarem. No silêncio. Que tanto falava. Que tanto dizia. Do que houve.Do que nunca existiu. Tão verdade. Tantas palavras. Nunca ditas ao acaso. Por algum motivo nunca se fechou a porta. Nunca se abandonou o resto das cinzas. As tais que ainda sobravam no canto da porta. Ao encostar e ao bater do seu vazio. Faltaram as palavras. Talvez. E ainda há muito por dizer. Muita água para cair. Muitas tempestades para ultrapassar. Muitas cinzas por apanhar. Antes de sair. Esquecer. Arrumar. Fechar. A porta. Ou quem sabe nunca se feche. Ou mesmo um dia se abra. Por enquanto olho pela janela. A varanda vai inundar. Pena não estar lá. Para que à beira do abismo. Pudesse dizer tudo. Tudo. Tudo.

Ana Teixeira

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