urgente lembrar

21:58

As vezes é bom saber que ainda lá estás. É bom saber que ainda te lembras, que ainda sou o refúgio na angustia que parece não cessar. É bom saber que aquela música ainda te lembra de mim. Que o tempo que passou não foi suficiente para nos soltar. Para nos deixar cair. Talvez tivesse sido melhor. Talvez a tua ausência e desapego me tivesse feito lembrar daquilo que nunca existiu. Mas não. As ruas desertas faziam-me lembrar as palavras cheias de tudo, que nunca te disse. As janelas com estores ao fundo, sem uma única brecha de fora, lembravam-me os momentos vazios em monólogos frios. Em busca de respostas. Desculpas ou justificações. Para não lembrar que no fundo, nada tinha perdão. Porque nem a ofensa tinha sido tão intensa que sozinha fumasse as pontas dos cigarros enregelados pelo vento frio. O fosso não era assim tão profundo. Não o suficiente para me queimar a pele e fazer despertar. Ainda tinhas uma chance. Para mim, ainda tinhas. Ainda podias voltar pelo caminho que sempre conheceste. Que memorizaste e para onde fugiste sempre que o ecrã dos teus batimentos estava quase a desenhar uma única linha. Aquela que sempre, mas sempre, nos dividiu. Marcou a distância e a diferença. O calor e o frio. O carinho e a compaixão. Não pretendo que fiques, diz-me apenas se espero. Até amanhã ou depois. Porque se ainda te lembras tanto, talvez voltes. E o meu instinto pede-me que fique. Por ti ou por mim. Quase implora, como se se ajoelhasse e me gritasse para não me mexer de onde estava. Para ficar gelada como o cigarro. Para me deixar fumar. Para me deixar… lembrares-te que ainda estou ali. Que ainda estou e que tu… tu ainda te lembras que sim.

Ana Teixeira

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