espera

02:25

Os ponteiros já marcavam para lá das 5 da manhã. Dou para mim a olhar para o relógio de minuto a minuto. Estava prestes a adormecer quando o dia quase nascia. Os primeiros raios de sol começavam a querer dar o seu ar. Numa jukebox encostada à parede do quarto mais longe da cama tocava uma musica qualquer. Estava no modo repetição. Ninguém errava. Repetidamente os mesmos sons. As mesmas posições. Os mesmos tempos. Não se errava na letra. Nem nos acordes. Nada se ausentava. Não faltava a voz. O piano. Nada. O dia nascia. Repetidamente sem ti. Repetidamente sem nós. Talvez fosse o tempo de pausa. Talvez aquela pausa fosse isso mesmo. Uma pausa. Daquilo que fomos. Daquilo que não fizemos. Do que quisemos fazer. Do que adiámos. Nem uma palavra. Durante meses. Agora um regresso. Como a música. Recomeçava. Repetia-se. Voltava a repetir. Pudera. Eu não desligara o abençoado aparelho. Aquele que me adormece. Que me alenta. Deixara-o repetir tudo. Bom, era apenas um aparelho. É sempre assim. Vive-se. Irrita-se. Fica-se capaz de partir tudo aos bocados. Levanta-se a cabeça. E repete-se. Não se consegue parar. É um vicio. É uma história inacabada. Como promessas nunca cumpridas. Como esperas intermináveis. Como compassos de incerteza. Como futuros pendentes. Como presentes ausentes. O sono é o refúgio. É o lugar certo. E nem esse. Até esse mostra a rejeição. Torna a espera decadente. Depressiva. Por parecer que os ponteiros não avançam. Que nós vemos o tempo. Julgamos que ele passa. Mas no fim, só passaram 5 minutos. Daquilo que se avizinha um tempo sem tempo. Um tempo de regresso. Que mesmo assim vai saber tão mal. Por ser tão pouco. Tão incerto. Tão pecador. Tão excitante. Tão louco. Tão tamanhamente tentador. E por aí se fica. Pelos cantos. Pelos recantos. Diminuindo a espera. Preenchendo-a com a expectativa do retorno. E volvido esse tempo nada sabemos do que queremos. Como nunca soubéramos. E tudo retorna ao inicio. Sem ter tido fim. Tudo recomeça. Como a música na jukebox. Que insiste e persiste. Tudo se repete.

Ana teixeira

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