(des) compostura

23:30

Deixa-te de rodeios. Podes entrar. Não preciso que me digas que não me contas com medo de me quebrar. Eu não quebro. As piores confissões são feitas com um copo de vinho na mão direita e não escrevinhadas numa carta, que comodamente, enviamos pelo correio. Senta-te comigo. Deixa-me observar, como se tivesse uma capacidade sobrenatural para te ler. E para deixar que me leias. Acho que jamais, o segundo claro. Fala-me de como foi quando só sobrou o vazio. Acendes um cigarro, passa, trava e olha em volta. Aposto que havia alguem. Ou tu. Ou nós. Ou vós. Os que desconheço. Ainda tenho um lugar para ocupares, confessa-te. Confessa-me. Quem foi desta vez que preencheu o desejo, os devaneios e as maiores fantasias? A marca do meu baton vermelho já está no copo. Esse, meio vazio. Talvez meio cheio. Depende da perspectiva. Mas não demores. Afinal não temos todo o tempo do mundo. Não tinhamos. Não tivemos. Curioso, desta vez não pareces tão audaz. Incrivel como sempre te incendiaste com aquela capacidade desmazelada de ser sexy. Nas palavras e nos actos. Perdes a compostura e já nem uma palavra dizes. Desta vez já nem um atrevimento descarado, daqueles de perder o norte. Desconcentras-te. Pedes desculpa. Agarras, em ti e naquilo que nunca conseguiste contar. Mas que eu já sabia de ante-mão. Jão não tenho baton só nos lábios. Mas descansa, todos sabemos que não foste tu que o esborrataste. A cassete volta ao inicio. A história repete-se e é sempre igual. Sim sim eu sei, não te canses, no que depender de ti aquele vermelho de afronta, nunca sairá do sitio onde eu o pus. Mas deixa lá, eu sempre soube. Só não o disse porque… para isso tinha que perder a compostura. E isso. Nunca.

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