Deixa. De deixar.

00:45

E quando a noite se instala sente-se o cheiro e o estar. Sente-se. Sente-se o cheiro das tuas mãos, o teu cheiro, naquela camisola três números acima com que se adormeceu. Por isso abre a porta, deixa-me ficar. Ou mesmo sem ficar, deixa-me estar. Promete coisas que não vais cumprir. Fica, acordado, à espera de um amanhã incerto. Não vivas na sombra. Na sombra de incertezas e saberes. Deixa-te ficar mesmo sem saber. Deixa cair a noite e os lençóis sobre a pele fria. Deixa cair o desejo de olhos fechados e abraços apertados. Deixa sem pensar. Podes só cá estar uma vez, posso partir amanhã. Desfaz aquela maquilhagem sem falhas, aquele batom sem desvios, aquele vestido certo e aquele cabelo. Deixa de ser assim. Deixa que caia a noite e ainda lá estejas. Eu. Tu. Deixa que possa chegar à cozinha primeiro que tu. Beber os teus iogurtes. Chatear-te. Fazer-te cócegas. Deixa. Deixa que possa sorrir-te por cima do ombro enquanto de costas, me vês vestir. Deixa que possa subtilmente odiar. Odiavelmente querer. Deixa que possa saber que posso. Deixa que possa ficar e ser. Deixa. E quando deixares, deixa um espaço. Um espaço para que não fique sozinha. Um espaço para mais que um. Não necessariamente dois. Um espaço onde juntos, caibam dois, ou um. Mas promete, que quando deixares, deixas. Deixas mesmo.

You Might Also Like

0 comentários

Popular Posts

Like us on Facebook

Flickr Images

Subscribe