Faz de conta

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Quase que são mais as vezes em que faltam palavras. Mas vamos fazer de conta que até tenho essas palavras. Essas. Que explicam o que se sente. Vamos fazer de conta que essas cartas de amor existem e esses romances eternizados pelo tempo não são só livros. Que um olhar pode dizer mais que um falar. Esse falar que não sei. Esse partilhar que temo. Esse aproximar que não tento. Esse cair que não quero. Esse pensamento que afasto. Só fingir. Fingir que vens. Que sentes e vais ficando. Que nao me deixas sentir. Saudades. Vamos fingir que até sabia desenhar e podia mostrar. Vamos fingir que podiamos trocar. Enterlaçar. As pernas por baixo dos lençóis. Os dedos por entre as mãos. Que podiamos até trocar. Trocar as camisolas e o cheiro dos perfumes deslavados entre beijos e entregas. O real é tão mais. Por isso finge. Finge que o acordar é melhor. Que aquela dia nasceu maior. Que a cama ainda tem o teu cheiro ou que o resto do meu batom ficou naquele copo sobre a mesa de cabeceira. Finge que foste capaz de guardar uma imagem tamanhamente real do meu sorriso parvo ou do ar rabugento. Com tamanho pormenor. Que no espelho do teu mural interno, soubeste fazer-me. Refazer-me. Ao teu jeito e pensar. Vamos fazer de conta que ninguém se zangou. Que o tempo não passou por nós. Façamos de conta que tudo está bem. Que estás bem. Que temos o tempo de um Mundo. Que não temos pressa de nada. Que eu vou estar aqui. Que vou saber esperar. E com tanto fingir, talvez um dia tudo seja assim.

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