Deixo correr uma e outra linha. Uma e outra página em branco. Já não espero muito desse vento que me toca a pele ou da neblina matinal que mal me deixa enxergar. Saà por não saber o que desejar. Bati com a porta do saber e risquei no papel conhecer tudo aquilo que até hoje pensei ser. Nem caminhos. Nem mapas. Que viagem atribulada. Essa de saber por onde ir e por que trilhos passar. Essa de ter que decidir e escolher sem saber o que és no meio de tanto que sabes de ti. Dei por essas ruas cheias de gente repletas de um vazio imenso, como se de mim se tratassem. Dei por buscas de incerto e para sempres falhados. Dei com colunas de crÃticas escritas por autênticos desastres. Dei por julgamentos e despedidas sem nexo. Ficou só o ar vazio para que deixemos de ver ao longe. Como se de repente a única luz se apagasse e uma parte de alguma coisa se fechasse aos nossos olhos. Nem ai nem ui. Olá ou Adeus. Nem um abraço cheio, que espera por um coração em cacos nem uma mão que subtilmente se levanta para acenar num jeito desleixado aquilo que dizem ser, adeus. Acho que neste mundo de tanta gente que tudo sabe, nos perdemos na falta de conhecer e sentir. Ficamos sedentos de um nada que acaba por preencher qualquer coisa que não sabemos bem. Perdemo-nos em metamorfoses e viramos borboletas que não somos, com cores que não são as nossas e asas que não voam, movimentos que não nos libertam e uma vida que não nos pertence. E quando paramos para pensar é tarde, já pisámos riscos e já sentimos o peso de ter sido desconhecidos de nós próprios. De sermos anónimos da nossa própria consciência. De não nos reconhecermos no espelho dos dias e nos reflexos de uma qualquer água parada. Nessa altura já tudo passou e fomos reféns de uma inconsciência sem parâmetros, sem linhas de controle, sem portas nem janelas que nos salvem. CaÃmos. Temos que cair, nem que seja para entender que aquela não era a forma de lá chegar, que as pessoas eram erradas e que nós, estávamos perdidos na ilusão irrisória de estarmos certos. Para entender que a mudança parte do palmo de distância a que ficámos do abismo. E que esse abismo, não é para nós. É para quem acha que tudo conhece, para aqueles que não somos e para aqueles que se geram a partir de borboletas fluorescentes mas que ao mÃnimo sopro, só têm asas para poder sentir a queda.
Desculpa. Desculpa se não sou a mais bonita que já viste. A que tem mais piada. Desculpa se à s vezes estou de mau humor. Se acordo mal disposta. Se à s vezes não me apetece dizer bom dia. Se adormeço sem responder. Se deixo as luzes acessas e te acordo de noite com o meu andar barulhento. Desculpa se abro as cortinas e não me preocupo a que horas adormeceste. Desculpa se te roubei o lençol de noite e passaste frio. Se sou rabugenta. Se não sei de cor o nome dos teus amigos. Se não entendo que falem, desconhecendo. Se não sei que eles estejam por perto. Desculpa por agir sem rotina e à s vezes, ser uma criança. Lamento não comprar o Jornal todos os dias ou não te levar o pequeno-almoço à cama. Desculpa por ter o coração na boca e não deixar nada por dizer. Por ser impulsiva e ciumenta. Por não usar maquilhagem todos os dias. Por nem sempre estar no meu melhor. Por não poder dar as férias de sonho. A casa na praia. Desculpa por não ter a conta recheada. Por me bastar um filme e um fim de tarde ao pôr-do-sol. Desculpa por me preocupar constantemente. Por querer-te por perto. Por não me querer demasiado longe. Por mandar mensagens ou não mandar nenhuma. Por gritar ou por cometer erros. Por querer saber tudo. Por não qurer saber de nada. Sobretudo do que os outros pensam. Por ligar a meio da noite sem sono. Desculpa por ser descomprometida e sem jeito. Por ser parva e me rir de tudo. Por agir sem pensar. Por pensar sem agir. Por voluntariamente me preocupar sem retorno. Por não medir promessas. Por gostar sem limites. Por ser egoÃsta sem noção. Por muitas vezes não querer ver o telejornal. Por querer tanto tudo. O tempo todo. Por gostar de passar noites a rir sem pensar. Sem razão. Por amuar demasiado. Desculpa pela quantidade infinita de tempo a fazer-me sorrir. Desculpa sorrir com pouco. Ser sem remédio. Não guardar rancor e aceitar-te sempre. Desculpa errar. Os pedidos de desculpa que não dei. O mau de ti que suportei sem duvidar. Desculpa o meu amor sem laços nem bonitos embrulhos. Ser sincera e gostar sem pausas. Querer sem dúvidas. Desculpa ter sempre tempo. Mas sabes que mais? Não mudava nada. Seja pelo que for, não retirava uma virgula, nunca... porque eu, sou assim.
Acordar. Vestir. Da janela, perdi dois autocarros quando já nem sequer deveria ali estar. Não despertámos de sonhos nem fantasias. Abrimos os olhos de uma noite em branco e da minha cabeça encostada ao teu peito e às mãos frias. Nem calor nem frio. Um salto por cima do teu corpo cansado e imóvel. Do teu pensamento inabalavel e dos teus sentimentos escondidos por detrás de um gesto carinhoso. Na hora em que ninguém mais o pudesse ver. Não fosse por ai aparecer o maldito pecado de querer mais por gostar. Sabe a mentol, a minha boca. Tem o teu cheiro, a minha roupa. O meu corpo que se arrasta pelo curto corredor. O cão que me dá os bons dias e os teus olhos cerrados. Nem uma palavra. O dia nasceu para dois. E para cada um como lei. Não ia ser diferente. Só preferia que agora não me lembrasses poemas ou versos de segredos e músicas que jamais serão ouvidas. Não foi menos por não se ter tornado dois. Foi mais até por ter sido apenas um mas na certeza de que é inteiro. Sem puder largar, mais um dia se ficou. Foram dois dias e uma noite. Depois disso um beijo deslavado e um suposto até já. Alguns meses, foi quanto tempo passou sem cenas de procura ou saudade. O silêncio. Agora, conversas disconexas e sem valor. Um suposto elo. Uma qualquer confiança alimentada pela ideia de que por um dia ter sido qualquer coisa, não morreu ali e pode continuar a ser uma coisa qualquer. Só erras porque quando queres, tens que querer tudo. Completa, complicada, simples e confusa. Com o lado idiota, arrogante, descontrolado, doce, amargo, com desprezo e saudade. Com gritos de raiva ou de desejo. Portanto não há lugar para mais ou menos. É tudo ou nada, porque metades nunca serviram a ninguém. Tiveste a chance, a hora e o lugar para querer tudo. Ali e agora. Se não quiseste não te arrependas, simplesmente não penses que quando pensas querer, podes voltar atrás. O inteiro, para ti é nada... e isso seria caminhares em vão.
Três pontos. Reticencias e as expressões subentendidas. Aquele abraço e o teu cheiro entranhado em cada fio de cabelo. Em cima da mesa ficaram as chaves. Daquela casa de mil portas. Daquela viagem só para um. Na mesa de cabeceira. Ao lado dos brincos que se tiraram porque magoam ao dormir. No peito. Lembraste de te ter esquecido? Deve ter sido quando o sono deixou cair as forças. Depois daquele último cigarro. Com os olhos de sono que gravavam aquela silhueta curvilinea. Entre abertos. Não ficou um bilhete. Nem uma rosa na ponta da cama. Uma mensagem. Ficaram almofadas espalhadas e lençóis desalinhados. Ficou aquele perfume. Aquela camisola esquecida. Para lembrar que o hoje foi só de passagem. Que amanha as memórias são frágeis. E que o que se sente, muda a cada segundo. A cada chance ou sussurro ao ouvido. A cada carinho despercebido ou a cada lembrança de outra hora. A cada expressão transparente de um sorriso esboçado por prazer. Ou por força. A cada toque. A cada seres tu. A cada sentir meu. E olha que eu já vi coisas começarem por bem menos. E esta pode começar para ser a mais bonita de todas.
Ela não precisa das tuas flores. Provavelmente nem reparou no nome do restaurante onde comeram qualquer coisa. Nem na marca do café para dois. Ela nem se lembrou onde é que a tinhas prometido levar. Só se lembrou que tinhas prometido estar. Provavelmente nunca tirou segundas palavras. Das tuas palavras. Nem se quis iludir. Lembrou-se de pensar que nem todos pensam igual. Que tu pensavas uma coisa que não era. E que por isso estavas a acertar ao lado do que era. Lembrou-se de não pensar nisso. Porque não queria adivinhar. E, portanto não esperes nem adivinhes. Não prevejas momentos. Não despertes reacções. Não provoques atitudes. Senta-te e espera para ver. As pessoas não são iguais. Ela gosta do café em chávena quente e de conversar. Não tenta nada de impossÃvel. Não quer nada que não exista. Só simples e transparente. Natural e espontâneo. Ela pode até nem querer um bom jantar ou um passeio fabuloso. Às vezes uma lareira e uma manta para dois. Uma praia deserta e o sal no corpo. Uma mensagem de bom dia. Um adormecer diferente. Não adivinhes. Ela não são todas. Tu não és igual. E podes perder uma boa chance. De para ela, ser diferente.
Quase que são mais as vezes em que faltam palavras. Mas vamos fazer de conta que até tenho essas palavras. Essas. Que explicam o que se sente. Vamos fazer de conta que essas cartas de amor existem e esses romances eternizados pelo tempo não são só livros. Que um olhar pode dizer mais que um falar. Esse falar que não sei. Esse partilhar que temo. Esse aproximar que não tento. Esse cair que não quero. Esse pensamento que afasto. Só fingir. Fingir que vens. Que sentes e vais ficando. Que nao me deixas sentir. Saudades. Vamos fingir que até sabia desenhar e podia mostrar. Vamos fingir que podiamos trocar. Enterlaçar. As pernas por baixo dos lençóis. Os dedos por entre as mãos. Que podiamos até trocar. Trocar as camisolas e o cheiro dos perfumes deslavados entre beijos e entregas. O real é tão mais. Por isso finge. Finge que o acordar é melhor. Que aquela dia nasceu maior. Que a cama ainda tem o teu cheiro ou que o resto do meu batom ficou naquele copo sobre a mesa de cabeceira. Finge que foste capaz de guardar uma imagem tamanhamente real do meu sorriso parvo ou do ar rabugento. Com tamanho pormenor. Que no espelho do teu mural interno, soubeste fazer-me. Refazer-me. Ao teu jeito e pensar. Vamos fazer de conta que ninguém se zangou. Que o tempo não passou por nós. Façamos de conta que tudo está bem. Que estás bem. Que temos o tempo de um Mundo. Que não temos pressa de nada. Que eu vou estar aqui. Que vou saber esperar. E com tanto fingir, talvez um dia tudo seja assim.
E quando a noite se instala sente-se o cheiro e o estar. Sente-se. Sente-se o cheiro das tuas mãos, o teu cheiro, naquela camisola três números acima com que se adormeceu. Por isso abre a porta, deixa-me ficar. Ou mesmo sem ficar, deixa-me estar. Promete coisas que não vais cumprir. Fica, acordado, à espera de um amanhã incerto. Não vivas na sombra. Na sombra de incertezas e saberes. Deixa-te ficar mesmo sem saber. Deixa cair a noite e os lençóis sobre a pele fria. Deixa cair o desejo de olhos fechados e abraços apertados. Deixa sem pensar. Podes só cá estar uma vez, posso partir amanhã. Desfaz aquela maquilhagem sem falhas, aquele batom sem desvios, aquele vestido certo e aquele cabelo. Deixa de ser assim. Deixa que caia a noite e ainda lá estejas. Eu. Tu. Deixa que possa chegar à cozinha primeiro que tu. Beber os teus iogurtes. Chatear-te. Fazer-te cócegas. Deixa. Deixa que possa sorrir-te por cima do ombro enquanto de costas, me vês vestir. Deixa que possa subtilmente odiar. Odiavelmente querer. Deixa que possa saber que posso. Deixa que possa ficar e ser. Deixa. E quando deixares, deixa um espaço. Um espaço para que não fique sozinha. Um espaço para mais que um. Não necessariamente dois. Um espaço onde juntos, caibam dois, ou um. Mas promete, que quando deixares, deixas. Deixas mesmo.
Já te esqueces da chave, porque a tua casa mudou. Nao te preoucupas com o telefone porque está tudo ali ao lado. Estão ali, lado a lado. As canetas ficaram na secretária antiga, que agora mal usas para reescrever em papéis velhos. Agora escreves. Contas de novo e para futuro. Aquela és tu. Sais de casa com mau olhar para o guarda roupa. O cabelo desgrenhado e as camisolas tamanho xxl. Não é importante. As grandes despedidas ou um acenar. As grandes chegadas ou um beijo na testa. Adormeces ao som do que te lembras e acordas com sons que não esqueces. Não foi aquela palavra ou muito menos aquele verso. Foi só um momento. Um carinho ou um desejo de. Um olhar de soslaio ou um sorriso mordido.
Já não se vê relógios, o tempo é todo e inteiro. Cabe na mão bem fechada da noite ou do ultimo cigarro que nunca acaba. Num espaço onde cabem dois. Tiram-se os sapatos antes de entrar, segredo e nada de barulho. A mesma entrada e o mesmo abajour preto e branco. As chaves ficaram penduradas. Mais uma vez, mas não foi esquecimento. Não se entrou no sitio errado. Não há lugares seguros. Nem abraços sem fim. E depois da fuga, depois, volta-se sempre a casa.
Ana Teixeira
Já não se vê relógios, o tempo é todo e inteiro. Cabe na mão bem fechada da noite ou do ultimo cigarro que nunca acaba. Num espaço onde cabem dois. Tiram-se os sapatos antes de entrar, segredo e nada de barulho. A mesma entrada e o mesmo abajour preto e branco. As chaves ficaram penduradas. Mais uma vez, mas não foi esquecimento. Não se entrou no sitio errado. Não há lugares seguros. Nem abraços sem fim. E depois da fuga, depois, volta-se sempre a casa.
Ana Teixeira
Ela nunca vai ser para ti uma coisa que já tenhas tido. Uma tem os cabelos longos. Ela tem médio. Partilham só os olhos castanhos. Os corpos unem, numa junção hipotéticamente quase perfeita, mas são diferentes. Como as sensações. Uma vai contigo ao cinema e imaginam um filme que julgam viver. Dão as mãos e trocam juras. Este e aquele amor. Ela conta um filme quase perverso. Vive um clima que nunca prevê e faz as juras de nunca desaparecer. De nunca estar longe ou ir viver mais logo. Uma revira os olhos quando discutem, promete que se vai embora e que nunca mais te quer ver. Dá um estalo. Bate com o punho na mesa e nem sabe da missa a metade. Ela não discute. Conversa contigo e promete, apesar de tudo, ficar. Aponta-te os defeitos e a forma absurdamente racional como lidas com tudo. Diz que foi a última vez e que a tua escolha impera. Mas nunca parte. Fica sempre para ver. Invisivelmente ao teu lado, invariavelmente ao teu redor, invencivelmente ao teu alcançe. Uma publica ao mundo o teu que é seu e vosso amor. O incontestavel falso carinho. O arrogante gostar e querer porque faz bem e parece bem. Não te conhece. Não te sabe os passos, mas vai estar inesgotavelmente contigo, sem nunca te por em causa, sem nunca duvidar. Ela já duvidou do mundo por ti, já pensou tantas e tantas vezes na sorte. E no azar. No querer que não vai deixar de ser nunca. Na tua viciosa virtude. Sobre todos os pecados que conscientemente esconde, de ti, por ti. Uma é aquilo que julgas querer e construir idealmente para sempre. Ela é aquilo que talvez não saibas que sempre quiseste mas que nunca tiveste coragem para ter. Porque uma, na ingenuidade de ser, pensa que conhece. Outros acham que te conhecem. Mas ela, ela conhece-te. Ela não vai ser a que tu apresentas aos teus pais, não vai ser a que os teus amigos conhecem. Não vai ser a mais bonita história de amor, não vai ter direito a fotos nem demonstrações de afecto. Ela provavelmente não vai ficar contigo, nunca. É o teu golpe de sorte eterna. E tu largas. E ela sabe de tudo isso e mais um pouco. E mesmo assim, vai sempre estar por ali. E isso é talvez uma das mais bonitas formas de querer. Não há comparação no querer e ela vai sempre ser diferente. Tão diferente, que nunca nada será igual.
Ana Teixeira
Ana Teixeira
Mas nem sempre foi assim. Nem sequer foi sempre que fumei o cigarro e te deixei a ponta. Nem sempre partilhei nem quis dar o que é meu. E sem contar os passos e os intervalos compassados por respirações reticentes, fui deixando cair. Tirei a máscara e do pó fiz um fumo estonteante que me deixou sem ver. Até a janela e aquele recanto. Ficámos num escuro impossÃvel de se ver. E mesmo nesse escuro pudemos saber que, impossÃvel, era não ficar. Sem consequências nem estalos. Sem se punir no segredo ou na inconfidência. Nem sempre me despi. E aÃ, até de ti e de mim e do que fez ser nós e afinal, ser nada. Foi um caminho sem estrada e uma morte na praia com pouco que contar. No fundo, nem há culpa. Não sei se fui eu que não te soube ler ou se foste tu que simplesmente vieste sem hora marcada para ter. Sem destino nem rumo, nem uma sombra de fumo. Nem sempre soube se querer era o certo. Sentava-me uma e outra vez, sem conseguir escrever, e cada palavra parecia em coma. Depois disso, um primeiro suspiro sem nexo. Apanhei o último comboio das duas que nem sei para onde vai. Nem sequer se volta. Quando nem como. Entrei. Só como quem nem sequer sabe ao que vai. Ao primeiro segundo consegui saber. Esperava uma e outra vez. Sabia que já não era igual. Mas queria estar ali sem perguntar ou saber porquê. Não havia nada que soubesse não fazer. Era mesmo assim. Tinha largado a pele e deixado demais. E isso, já não me incomodava. Pelo contrário, até acho que gostava.
Ana Teixeira
Ana Teixeira
Nunca gostei da tua maneira de andar. Sempre desajeitado. Gostava das tuas camisolas. Nunca gostei de te despentear. Mas sempre adorei os teus caracóis. Sempre achei piada aos teus olhos castanhos. Nunca gostei do teu olhar em assuntos sérios. Gostava do olhar profundo. Como se sem dizer nada, falasses. Sempre adoraste as minhas palavras. Sempre odiei o que fazias com as tuas. Sempre adoraste prometer coisas. Adoro a sinceridade. Nunca gostei de livros sem fim. Sempre adoraste terrenos incertos. Gostava do simples. Do sem tempo. De nós livres à noite. Numa estrada deserta ou num recanto com pouca luz. Gostava da música ambiente e de depois me lembrar dela. Gostava do toque e da respiração. Gostava do ofegante. Depois do tranquilo. Da oscilação. Do encaixe. De sentir. Gostava do cigarro. Do ambiente e das conversas cheias de nada. Gostava dos vidros embaciados e das palavras. Dos sorrisos mais evidentes. Das gargalhadas. Dos olhares de relance. De veres se eu estava a olhar. Das minhas pernas no colo. Do meu vestido mal posto. Da minha roupa interior. Das tuas mãos. A minha descontração. O teu olhar de soslaio. Arrogante. Nada interessa. Interessa tudo, ali e agora. Amanhã sem promessas. Sem dúvidas. Ser o errado. Nunca vai ser certo. O erro preferido e a fraqueza mais forte. Eram as paredes e o tecto, donas desse pecado infinito guardador de segredos. As palavras perdidas e o que já não se soube dizer. As estradas desertas a velocidades incertas. Os caminhos em vão e as noites, e aquele frio. São segudos em cadernos. Cadernos nossos. Coisas que devia ter escrito para poder lembrar. Simples. Sempre simples, eu empoleirada e tu com os teus braços à minha volta, ficavas de pé.