butterfly effect

20:45

Deixo correr uma e outra linha. Uma e outra página em branco. Já não espero muito desse vento que me toca a pele ou da neblina matinal que mal me deixa enxergar. Saí por não saber o que desejar. Bati com a porta do saber e risquei no papel conhecer tudo aquilo que até hoje pensei ser. Nem caminhos. Nem mapas. Que viagem atribulada. Essa de saber por onde ir e por que trilhos passar. Essa de ter que decidir e escolher sem saber o que és no meio de tanto que sabes de ti. Dei por essas ruas cheias de gente repletas de um vazio imenso, como se de mim se tratassem. Dei por buscas de incerto e para sempres falhados. Dei com colunas de críticas escritas por autênticos desastres. Dei por julgamentos e despedidas sem nexo. Ficou só o ar vazio para que deixemos de ver ao longe. Como se de repente a única luz se apagasse e uma parte de alguma coisa se fechasse aos nossos olhos. Nem ai nem ui. Olá ou Adeus. Nem um abraço cheio, que espera por um coração em cacos nem uma mão que subtilmente se levanta para acenar num jeito desleixado aquilo que dizem ser, adeus. Acho que neste mundo de tanta gente que tudo sabe, nos perdemos na falta de conhecer e sentir. Ficamos sedentos de um nada que acaba por preencher qualquer coisa que não sabemos bem. Perdemo-nos em metamorfoses e viramos borboletas que não somos, com cores que não são as nossas e asas que não voam, movimentos que não nos libertam e uma vida que não nos pertence. E quando paramos para pensar é tarde, já pisámos riscos e já sentimos o peso de ter sido desconhecidos de nós próprios. De sermos anónimos da nossa própria consciência. De não nos reconhecermos no espelho dos dias e nos reflexos de uma qualquer água parada. Nessa altura já tudo passou e fomos reféns de uma inconsciência sem parâmetros, sem linhas de controle, sem portas nem janelas que nos salvem. Caímos. Temos que cair, nem que seja para entender que aquela não era a forma de lá chegar, que as pessoas eram erradas e que nós, estávamos perdidos na ilusão irrisória de estarmos certos. Para entender que a mudança parte do palmo de distância a que ficámos do abismo. E que esse abismo, não é para nós. É para quem acha que tudo conhece, para aqueles que não somos e para aqueles que se geram a partir de borboletas fluorescentes mas que ao mínimo sopro, só têm asas para poder sentir a queda.

You Might Also Like

0 comentários

Popular Posts

Like us on Facebook

Flickr Images

Subscribe