não sei chamar-te nada

20:52

Nunca gostei da tua maneira de andar. Sempre desajeitado. Gostava das tuas camisolas. Nunca gostei de te despentear. Mas sempre adorei os teus caracóis. Sempre achei piada aos teus olhos castanhos. Nunca gostei do teu olhar em assuntos sérios. Gostava do olhar profundo. Como se sem dizer nada, falasses. Sempre adoraste as minhas palavras. Sempre odiei o que fazias com as tuas. Sempre adoraste prometer coisas. Adoro a sinceridade. Nunca gostei de livros sem fim. Sempre adoraste terrenos incertos. Gostava do simples. Do sem tempo. De nós livres à noite. Numa estrada deserta ou num recanto com pouca luz. Gostava da música ambiente e de depois me lembrar dela. Gostava do toque e da respiração. Gostava do ofegante. Depois do tranquilo. Da oscilação. Do encaixe. De sentir. Gostava do cigarro. Do ambiente e das conversas cheias de nada. Gostava dos vidros embaciados e das palavras. Dos sorrisos mais evidentes. Das gargalhadas. Dos olhares de relance. De veres se eu estava a olhar. Das minhas pernas no colo. Do meu vestido mal posto. Da minha roupa interior. Das tuas mãos. A minha descontração. O teu olhar de soslaio. Arrogante. Nada interessa. Interessa tudo, ali e agora. Amanhã sem promessas. Sem dúvidas. Ser o errado. Nunca vai ser certo. O erro preferido e a fraqueza mais forte. Eram as paredes e o tecto, donas desse pecado infinito guardador de segredos. As palavras perdidas e o que já não se soube dizer. As estradas desertas a velocidades incertas. Os caminhos em vão e as noites, e aquele frio. São segudos em cadernos. Cadernos nossos. Coisas que devia ter escrito para poder lembrar. Simples. Sempre simples, eu empoleirada e tu com os teus braços à minha volta, ficavas de pé.

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