invariavelmente diferentes

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Ela nunca vai ser para ti uma coisa que já tenhas tido. Uma tem os cabelos longos. Ela tem médio. Partilham só os olhos castanhos. Os corpos unem, numa junção hipotéticamente quase perfeita, mas são diferentes. Como as sensações. Uma vai contigo ao cinema e imaginam um filme que julgam viver. Dão as mãos e trocam juras. Este e aquele amor. Ela conta um filme quase perverso. Vive um clima que nunca prevê e faz as juras de nunca desaparecer. De nunca estar longe ou ir viver mais logo. Uma revira os olhos quando discutem, promete que se vai embora e que nunca mais te quer ver. Dá um estalo. Bate com o punho na mesa e nem sabe da missa a metade. Ela não discute. Conversa contigo e promete, apesar de tudo, ficar. Aponta-te os defeitos e a forma absurdamente racional como lidas com tudo. Diz que foi a última vez e que a tua escolha impera. Mas nunca parte. Fica sempre para ver. Invisivelmente ao teu lado, invariavelmente ao teu redor, invencivelmente ao teu alcançe. Uma publica ao mundo o teu que é seu e vosso amor. O incontestavel falso carinho. O arrogante gostar e querer porque faz bem e parece bem. Não te conhece. Não te sabe os passos, mas vai estar inesgotavelmente contigo, sem nunca te por em causa, sem nunca duvidar. Ela já duvidou do mundo por ti, já pensou tantas e tantas vezes na sorte. E no azar. No querer que não vai deixar de ser nunca. Na tua viciosa virtude. Sobre todos os pecados que conscientemente esconde, de ti, por ti. Uma é aquilo que julgas querer e construir idealmente para sempre. Ela é aquilo que talvez não saibas que sempre quiseste mas que nunca tiveste coragem para ter. Porque uma, na ingenuidade de ser, pensa que conhece. Outros acham que te conhecem. Mas ela, ela conhece-te. Ela não vai ser a que tu apresentas aos teus pais, não vai ser a que os teus amigos conhecem. Não vai ser a mais bonita história de amor, não vai ter direito a fotos nem demonstrações de afecto. Ela provavelmente não vai ficar contigo, nunca. É o teu golpe de sorte eterna. E tu largas. E ela sabe de tudo isso e mais um pouco. E mesmo assim, vai sempre estar por ali. E isso é talvez uma das mais bonitas formas de querer. Não há comparação no querer e ela vai sempre ser diferente. Tão diferente, que nunca nada será igual.

Ana Teixeira

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