"sorry i'm late" said valentine's day.

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Precisava mesmo era de me despir. Não de medos nem preconceitos, que cliché. Precisava mesmo de me despir de ti. Acho que me habituei à ideia de nunca te poder convidar para um cinema. de não podermos jantar ou de não te poder ligar quando quisesse. Essas coisas, aquele companheirismo sabes? Acho que me habituei a viver contigo e sem ti. A aparar-te golpes e falhas e a achar que era mesmo isso. Ao fim de cem actos repetidamente gritados às paredes essa passa a ser a nossa noção de normalidade. 99% das vezes, não é. Tu não és assim, eu não sou assim, nós não vamos ser diferentes mas eu insisto no engano. Insisto. E insisto ao mesmo tempo que me convenço. E agora nem sequer sei o que é isso. Tu estás aí e eu aqui e há uns tempos isso era suficiente. Agora não é. Os espaços encolheram, os dias demoram. O vazio das tuas palavras gela-me as mãos e o desespero na tua procura ocasional enerva-me de tão pretensioso. eras capaz de me seguir ao minuto quando queres. fazer cobranças e julgar-te o que nunca quiseste ser. nessas alturas devia lembrar-me bem, de cada segundo como aquele. De cada momento como aquele em que a solidão, a descrença numa vida feliz em que tu não estivesses, me assolaram e me deixaram completamente petrificada. meia morta pr'ali. devia lembrar-me de como me deixaste sentir só, abandonada, injustiçada, traída. Traíste-me, não me enganaste, mas traíste-me, a mim, ao meu coração, a todo o meu ser que acreditou o suficiente em ti para lhe entregar a razão de bater, e agora estou aqui e tu estás aí. o grande problema: tu aí. eu aqui. e eu ingénua que sou, achei que sabia lidar com isso. e fiz asneira, once again, como tão bem sei fazer. adoeces-me. acho que ainda não o tinhas feito porque podia ver mais e melhor para além de ti, o problema foi quando por segundos te voltei a ver só a ti. e voltaram as idas diárias aos teus lugares, saber das tuas rotinas e das músicas que andam nos teus headphones. se andas feliz ou a bater com a cabeça nas paredes. quando há uns tempos isso finalmente me passava ao lado. tu estragas sempre tudo, já me habituei. até as minhas tentativas de escapar-(te). e agora estás aí. não sei se bem ou do avesso como de costume. com esse feitio fodido. e eu estou aqui, rodeada de silêncio e uma solidão tão grande como a merda da noite que se aproxima. espero que estejas bem e não mais te lembres. nem de mim nem de nós. é o que desejo profundamente para os dois, ainda que tu aí, e eu aqui.

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